VIBHUTI PADA

TERCEIRO CAPITULO DOS SUTRAS DE PATANJALI

Este capítulo, com 56 sutras, discute os poderes e transformações que podem ocorrer durante a jornada do yoga, como o desenvolvimento da intuição e a capacidade de manifestar os desejos.

Clique na imagem
para abrir a explicação completa e o significado mais profundo de cada Sutra. 


Deśa-bandhaḥ cittasya dhāraṇā

3.1 -Dhāraṇā é a fixação da mente em um único ponto ou área.


Tatra pratyayaikatānatā dhyānam

3.2 - A continuidade do fluxo de consciência em torno de um único objeto é chamada dhyāna (meditação).  Contemplação.


Tad eva arthamātra-nirbhāsaṃ svarūpa-śūnyam iva samādhiḥ

3.3 - Quando apenas a essência do objeto permanece iluminando a mente, como se o próprio 'eu' desaparecesse, isso é chamado samādhi.


Trayam eka-tra saṃyamaḥ

3.4 - A prática conjunta de dhāraṇā (concentração), dhyāna (meditação) e samādhi (absorção) é chamada saṃyama.


Taj-jayāt prajñā-lokaḥ

3.5 - Pela maestria do Saṃyama, surge a luz da sabedoria superior (prajñā).


Tasya bhūmiṣu viniyogaḥ

3.6 - O saṁyama pode ser aplicado gradualmente a diferentes aspectos (objetos ou estágios).


Trayam antaraṅgaṁ pūrvebhyaḥ

3.7 - Essa tríade (dhāraṇā, dhyāna e samādhi) é mais interna que os estágios anteriores (yama até pratyāhāra)


Tad api bahiraṅgaṁ nirbījasya

3.8 - Mesmo isso (saṁyama) é externo em relação ao samādhi sem objeto (nirbīja).


Vyutthāna-nirodha-saṁskārayor abhibhava-prādurbhāvau nirodha-kṣaṇa-cittānvayo nirodha-pariṇāmaḥ

3.9 - A transformação rumo ao controle mental (nirodha) acontece quando os padrões de distração são substituídos por impressões de cessação.


Tasya praśānta-vāhitā saṁskārāt

3.10 - A calma contínua da mente é resultado de impressões (saṁskāras) da tranquilidade.


Sarvārthataikāgratayoḥ kṣayodayau cittasya samādhi-pariṇāmaḥ

3.11 - O surgimento de foco único e o desaparecimento da dispersão constituem a transformação rumo ao samādhi.


Tataḥ punaḥ śānta uditau tulya pratyayau cittasya ekāgratā pariṇāmaḥ

3.12 - Então, quando o conteúdo mental que está cessando (śānta) e o que está surgindo (udita) têm impressões idênticas, há transformação da mente (citta) em concentração (ekāgratā pariṇāmaḥ).


Etena bhūta-indriyeṣu dharma-lakṣaṇa-avasthā-pariṇāmāḥ vyākhyātāḥ

3.13 -  Por isso, as transformações dos elementos e dos sentidos — quanto à sua essência, características e estados — são explicadas.


śānta-udita-avyapadeśya-dharmānupātī dharmī

3.14 - O substrato (dharmī) é aquilo que acompanha as qualidades (dharmas) passadas, presentes e futuras — tranquilas, ativas ou não manifestadas.


Kramānyatvaṁ pariṇāmānyatve hetuḥ

3.15 - A diferença de sequência é a causa da diferença de transformação.


Pariṇāma-traya-saṁyamād atītānāgata-jñānam

3.16 - Pela aplicação do saṁyama aos três tipos de transformações (nirodha, samadhi e ekagrata), vem o conhecimento do passado e futuro.


śabdārtha-pratyayānām itaretara-adhyāsāt saṅkaraḥ, tat-pravibhāga-saṁyamāt sarva-bhūta-ruta-jñānam

3.17 - Ao distinguir entre o som, o significado e a impressão mental, obtém-se o conhecimento dos sons de todos os seres.


Saṁskāra-sākṣātkaraṇāt pūrvajāti-jñānam

3.18 - Pelo conhecimento direto dos saṁskāras, conhece-se vidas anteriores.


Pratyayasya para-cittajñānam

3.19 - Pelo saṁyama sobre os conteúdos mentais, conhece-se a mente dos outros.


Na ca tat sālambanaṁ tasya aviṣayībhūtatvāt

3.20 - Mas não se conhece o conteúdo exato da mente do outro, pois não é objeto para o praticante.


Kāya-rūpa-saṁyamāt tad-grāhya-śakti-stambhe cākṣuṣa-prakāśāsamprayoge ’ntardhānam

3.21 -  Aplicando saṁyama ao rupa (um dos cinco tanmatras), com a suspensão do poder receptivo, o contato entre o olho (do observador) e a luz (do corpo) é interrompido, e o corpo torna-se invisível.


Etena śabda-ādi-antardhānam uktam

3.22 - Por esse mesmo princípio, explica-se o desaparecimento de som e outros objetos sensoriais.


Sopakramaṁ nirupakramaṁ ca karma tat-saṁyamād aprānta-jñānam

3.23 - Ao realizar saṁyama sobre karma (ações) — tanto aquelas com efeitos visíveis (sopakrama) quanto as latentes (nirupakrama) — surge o conhecimento do momento da morte.


Maitry-ādiṣu balāni

3.24 - Ao praticar saṁyama sobre qualidades como amizade (maitrī), adquire-se força ou poderes correspondentes a essas qualidades.


Baleṣu hastibalādīni

3.25 - Ao realizar saṁyama sobre forças, como a força de um elefante, adquire-se a força correspondente.


Pravṛtti-āloka-nyāsāt sūkṣma-vyavahita-viprakṛṣṭa-jñānam

3.26 -  Pelo direcionamento da luz da percepção (pravṛtti-āloka) sobre um objeto, obtém-se conhecimento do sutil, do encoberto e do distante.


Bhuvana-jñānaṁ sūrye saṁyamāt

3.27 - Ao realizar saṁyama sobre o Sol, obtém-se o conhecimento dos mundos (ou sistemas planetários).


Candre tārā-vyūha-jñānam

3.28 - Ao realizar saṁyama sobre a Lua, obtém-se conhecimento da disposição das estrelas.


Dhruve tad-gati-jñānam

3.29 - Ao realizar saṁyama sobre a Estrela Polar (Dhruva), obtém-se conhecimento do movimento das estrelas.


Nābhi-cakre kāya-vyūha-jñānam

3.30 - Ao realizar saṁyama sobre o centro do umbigo (nābhi-cakra), obtém-se conhecimento da estrutura do corpo.


Kaṇṭha-kūpe kṣut-pipāsā-nivṛttiḥ

3.31 - Ao realizar saṁyama sobre a cavidade da garganta (kaṇṭha-kūpa), cessam a fome e a sede.


Kūrma-nāḍyāṁ sthairyam

3.32 - Ao realizar saṁyama sobre a nāḍī da tartaruga (kūrma-nāḍī), alcança-se estabilidade.


Mūrdha-jyotiṣi siddha-darśanam

3.33 - Ao realizar saṁyama sobre a luz no topo da cabeça (mūrdha-jyotis), há visão dos seres realizados (siddhas).


Prātibhād vā sarvam

3.34 - ou, através da intuição iluminada (prātibha), tudo pode ser conhecido.


Hṛdaye citta-saṁvit

3.35 - Ao realizar saṁyama sobre o coração (hṛdaya), surge o conhecimento da mente (citta-saṁvit).


Sattva-puruṣayoḥ atyanta-asaṅkīrṇayoḥ pratyaya-aviśeṣaḥ bhogaḥ para-arthatvāt sva-artha-saṁyamāt puruṣa-jñānam

3.36 - A experiência (bhoga) surge da não distinção entre a natureza (sattva, a mente) e o espírito (puruṣa), embora sejam absolutamente distintos. Ao realizar saṁyama sobre o propósito do ser (svārtha), obtém-se o conhecimento do puruṣa (consciência pura).


Tataḥ prātibha-śrāvaṇa-vedana-ādarśa-āsvāda-vartāḥ jāyante

3.37 - A partir disso (do conhecimento do puruṣa), surgem percepções superiores: intuição (prātibha), audição sutil (śrāvaṇa), percepção tátil (vedana), visão sutil (ādarśa), gosto sutil (āsvāda) e olfato sutil (vartā).


Te samādhau upasargāḥ vyutthāne siddhayaḥ

3.38 - Esses poderes (siddhis) são obstáculos no samādhi, mas no estado de dispersão mental (vyutthāna) são considerados conquistas.


Bandha-kāraṇa-śaithilyāt pracāraṇa-cetanāyāḥ ca balāt kāya-kaṣayaḥ

3.39 - Pelo relaxamento das causas da fixação (bandha-kāraṇa) e pela força da consciência que se move (pracāraṇa-cetanā), o corpo pode ser separado (do plano físico).


Udāna-jayāt jala-paṅka-kaṇṭaka-ādiṣu asaṅgaḥ utkrāntiḥ ca

3.40 - Com o domínio sobre o udāna (uma das energias vitais), obtém-se a levitação e o não contato com a água, o lodo, os espinhos.. e a capacidade de ascender (utkrānti).


Samāna-jayāt jvalanam

3.41 - Pelo domínio sobre o samāna (outro prāṇa), surge o poder do fogo interior (jvalanam).


śrotra-ākāśayoḥ sambandha-saṁyamāt divyaṁ śrotram

3.42 - Ao realizar saṁyama sobre a relação entre o ouvido e o éter (ākāśa), obtém-se a audição divina (divyaṁ śrotram).


Kāya-ākāśayoḥ sambandha-saṁyamāt laghu-tūla-samāpattheḥ ca ākāśa-gamanam

3.43 - Pelo saṁyama sobre a relação entre o corpo e o éter, e pela união com a leveza do algodão, torna-se possível o deslocamento pelo éter (ākāśa-gamana).


Bahir-akalpitā vṛttiḥ mahā-videhā tataḥ prakāśa-āvaraṇa-kṣayaḥ

3.44 - Quando a atividade da mente (vṛtti) se torna externa e não-conceitual (akalpitā), surge o estado da grande ausência de corpo (mahā-videhā), com a consequente dissolução da cobertura que obscurece a luz interior.


Sthūla-svarūpa-sūkṣma-anvaya-arthavattva-saṁyamāt bhūta-jayaḥ

3.45 - Pelo saṁyama nos aspectos grosseiro, essencial, sutil, nas inter-relações e no propósito dos elementos (pañca-bhūtas), alcança-se o domínio sobre eles.


Tato'ṇimādi-prādurbhāvaḥ kāya-saṁpat tad-dharma-anabhighātaḥ ca

3.46 - A partir disso, manifestam-se poderes como a aṇimā (tornar-se minúsculo), perfeição do corpo e invulnerabilidade às qualidades da natureza.


Rūpa-lāvaṇya-bala-vajra-saṁhananatvāni kāya-saṁpat

3.47 - A perfeição do corpo inclui beleza, graça, força e dureza semelhante ao diamante.


Grahaṇa-svarūpa-asmitā-anvaya-arthavattva-saṁyamāt indriya-jayaḥ

3.48 - Pelo saṁyama sobre a percepção, sua essência, egoidade, inter-relação e propósito, alcança-se o domínio dos sentidos.


Tato manojavitvaṁ vikaraṇa-bhāvaḥ pradhāna-jayaḥ ca

3.49 - A partir disso, surgem: a velocidade do pensamento, a atuação sem os sentidos e o domínio sobre a natureza primordial (prakṛti).


Sattva-puruṣayoḥ śuddhi-sāmye kaivalyam

3.50 - Quando há igualdade de pureza entre sattva (a mente) e o puruṣa (consciência), alcança-se o isolamento absoluto (kaivalya).


Tad-vairāgyād api doṣa-bīja-kṣaye kaivalyam

3.51 - Pela renúncia até mesmo desses poderes, com a destruição das sementes das impurezas, alcança-se o kaivalya.


Sthāni-upanimantraṇe saṅga-smaya-ākaraṇaṁ punar-aniṣṭa-prasaṅgāt

3.52 - Quando surgem convites de seres elevados (sthāni), não se deve ceder ao apego ou orgulho, pois isso pode causar retrocesso e sofrimento. (Ainda) existe a possibilidade do mal.


Kṣaṇa-tat-kramayoḥ saṁyamāt viveka-jaṁ jñānam

3.53 - Pelo saṁyama sobre os momentos e sua sequência, surge o conhecimento nascido do discernimento (viveka).


Jāti-lakṣaṇa-deśaiḥ anyatā-anavacchedāt tulyayoḥ tataḥ pratipattiḥ

3.54 - Pelo discernimento obtido, torna-se possível distinguir entre coisas que, embora parecidas em espécie, características e localização, são diferentes.


Tāratamya-viṣayatve’pi asaṁyogāt viveka-jaṁ jñānam

3.55 - Mesmo que os objetos tenham gradações (tāratamya), o conhecimento nascido do discernimento (viveka) permanece livre de associação com eles. O altissimo conhecimento nascido do percebimento da Realidade é transcendente, inclui a cognição de todos os objetos simultaneamente, abrange todos os objetos e processos do passado, do presente e do futuro, e também transcende o processo Mundial.


Sattva-puruṣayoḥ śuddhi-sāmye kaivalyam

3.56 - Quando a mente sutil (sattva) alcança pureza igual à do puruṣa, dá-se a libertação (kaivalya).